domingo, 6 de junho de 2010

Podemos supor uma sociedade destituída de uma geografia?


Ser e estar.

Entendo que a distinção intelectual do homem em relação aos demais seres é o fato de armazenarmos conhecimento extra-somático (fora de nosso corpo). O “onde” somático está na preservação da genética e na educação através de exemplos – comportamento pessoal. O “onde” extra-somático está nos pictogramas das cavernas de Altamira, nas pinturas nos museus, nos livros, nas músicas, nas obras de engenharia, nas farmácias.

Natural e artificial.

O natural é empírico. O artificial provém de abstrações humanas, como a matemática, a geometria, a técnica. Estas abstrações ajudam nas induções, no planejamento, no vislumbrar do futuro. E a melhor forma de prever o futuro é construindo-o. Tentamos impor a previsibilidade de um mundo artificial sobre o mundo da seleção natural.

Sociedade e natureza.

As partes da Terra são desiguais: montanhas, oceanos, rios, subsolo, atmosfera, férteis. Os homens são desiguais: fêmeas, gordos, velhos, fortes, caucasianos. As partes da Terra se organizam em zonas morfoclimáticas, se estruturam gravitacionalmente. Faz-se necessário que os homens se organizem em grupos sociais para travar as batalhas pela vida. O combate pela sobrevivência inclui o lugar onde o homem pisa, pensa e vive. A geografia serve, acima de tudo, para fazer a guerra pela dominação da natureza.

Sociedade e geografia.

A geografia natural é a que prescinde do homem para existir, mas que determina as existências em seu âmbito. A geografia humana é a da organização social e ambiental para o combate ao natural. Uma sociedade destituída de geografia, destituída de conhecimentos armazenados no “onde” extra-somático, não seria uma sociedade humana.

Sobrevivência.

A cidade de Camarina, no sul da Sicília, foi fundada por colonizadores de Siracusa em 598 a.C. Duas gerações depois foi ameaçada por uma peste que fermentava, segundo alguns, no pântano adjacente. Foram traçados planos para drenar o pântano. O oráculo consultado proibiu tal ação, aconselhando paciência. Porém as vidas corriam risco; ignorou-se o oráculo e drenou-se o pântano. A peste foi imediatamente controlada. Tarde demais reconheceu-se que o pântano tinha protegido a cidade de seus inimigos. Em 552 a.C. todos os habitantes foram massacrados e a cidade destruída por tropas que atravessaram a terra seca, onde antes se encontrava o pântano.

O conhecimento do espaço poderá significar nossa sobrevivência enquanto espécie.

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